JACARTA, 4 de nov de 2020 às 12:00
Por mais de uma década, a religiosa franciscana Klara Duha, de 65 anos, cuidou como uma mãe de mais de mil crianças abandonadas que sofrem de deficiência, hidrocefalia e desnutrição no orfanato Faomasi Santa Elisabeth, Nias, norte de Sumatra (Indonésia).
Segundo UCA News, a maioria das crianças atendidas pela religiosa no orfanato foram rejeitadas por suas famílias e, inclusive, encontradas na lixeira, em outros casos suas mães eram doentes mentais ou divorciadas com baixos recursos econômicos.
A religiosa contou a UCA News que desde jovem “sonhava em servir a humanidade”, mas “não sabia como fazê-lo”. Por isso, após terminar o ensino médio em sua cidade, seguiu seu chamado à vocação religiosa.
No início, seus pais se opuseram à sua vocação e exigiram que ela cumprisse o dever de ajudá-los, já que ela era a segunda de dez irmãos. Anos depois, em 1977, a Irmã Klara ingressou na Congregação Franciscana com o apoio de seus pais e em 1988 professou os votos perpétuos.
Muitos anos depois de ingressar na ordem e graças a uma experiência que a comoveu profundamente, a religiosa descobriu seu chamado para ajudar as crianças abandonadas.
A irmã Klara contou que um dia encontrou um bebê de um mês que tinha hidrocefalia, doença causada por excesso de líquido acumulado no cérebro, cujos pais tinham vergonha de levar ao hospital e, inclusive, queriam jogá-la ao mar por causa de sua condição, pois consideravam “uma maldição”.
A religiosa levou a bebê para o Hospital Santa Elisabeth, administrado pela congregação franciscana em Semarang, Java Central (Indonésia), para uma cirurgia. Depois que a menina foi curada, a irmã Klara a entregou aos seus pais, mas eles se recusaram a recebê-la devido à sua aparência “terrível”. Foi então que "decidi cuidar da menina sozinha", disse.
Desde 2006, depois dessa experiência e vendo que “a criança era bem cuidada”, mais crianças foram confiadas à sua tutela por encaminhamento dos sacerdotes em cujas paróquias existiam crianças com deficiência e hidrocefalia. A freira aceitava ao ver que os pais dessas crianças eram "muito pobres".
A irmã disse que também cuidava de crianças doentes nas aldeias locais. “Muitas crianças em Nias sofrem de hidrocefalia, lábio leporino e algumas estão paralisadas. Muitos pais afirmam que é uma maldição, por isso não cuidam de seus filhos”, explica.
Embora no passado a religiosa tivesse a vontade de “construir uma clínica para ajudar os doentes em Nias”, logo percebeu que “muitos dos doentes eram crianças”, então “mudou de ideia e estabeleceu um orfanato para abrigá-los e tratá-las”.
Hoje, a menina que salvou, chamada Noverdelina Duha, tem 14 anos e é uma das 85 menores de dois meses a 18 anos do orfanato Faomasi Santa Elisabeth, que ela fundou em 2008 com o apoio do Rotary Club. Do total de crianças, 60 frequentam escolas do ensino fundamental até o ensino superior.
“Eu poderia ter morrido ou ter sido jogada ao mar por meus pais se não fosse pela irmã Klara. Eu sobrevivi graças ao amor dela”, disse Noverdelina, que atualmente está no ensino médio e ajuda a freira a cuidar e educar os menores do orfanato.
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Irmã Klara cumpre a missão que considera um presente de Deus através da Igreja sob o lema “Amar a Deus, amar ao próximo”. Desta frase nasceu o nome "Faomasi", que significa "amor" no idioma nias. O edifício de diferentes usos que dirige com o apoio de oito pessoas foi construído pelo Kompas, o maior jornal da Indonésia.
Por causa de seu trabalho contínuo e paixão por cuidar de crianças abandonadas, a irmã Klara foi chamada de “anjo da guarda” das crianças de Sumatra. "Tenho compaixão delas. Simplesmente não posso permitir que crianças inocentes sofram ou sejam abandonadas. Devo salvá-las”, assinalou e expressou a sua tristeza porque as crianças não recebem a visita de seus familiares.
Para a religiosa, cuidar deles é uma alegria transbordante, que vem “de uma vida de oração e da generosidade dos doadores”. Embora "ainda não tenha recebido nenhum apoio do governo local", "muitos católicos e organizações" apoiam financeiramente o orfanato.
Explicou que ela só tem fé e vontade de ajudar as pessoas, e que Deus trabalha para colocar os meios. A este respeito, destacou o apoio de um médico alemão “que contribui todos os meses com o orfanato”.
“Não tenho dúvidas na hora de aceitar as crianças”, disse. “Deus as traz a mim e devo ajudá-las. Várias pessoas disseram que estou louca porque me viram sem dinheiro, mas posso ajudar as crianças”, afirmou.
“Sou tão pobre quanto as crianças, mas Deus motivou os doadores a ajudá-las. É um problema da humanidade com o qual todos devemos nos preocupar”, concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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